Aleatoriedades são o impulso de agarrar emoções, apertá-las como se pudessem se dissolver entre as frestas da pele.
Um sopro de vida coexistindo com a sombra da morte.
Aleatoriedades são o impulso de agarrar emoções, apertá-las como se pudessem se dissolver entre as frestas da pele.
Um sopro de vida coexistindo com a sombra da morte.
Quando abri a porta da sala, entrei no tronco daquela árvore. Uma escada em caracol me levou para baixo, e logo comecei a sentir o cheiro do bolo que minha tia Cinira fazia. Fiquei com água na boca!
Encontrei uma chave misteriosa no meu bolso e abri outra porta, que me levou a um jardim. Muitas flores, árvores enormes, caminhos largos e peregrinos descansando. Vi ruínas de torres caídas, várias torres, ao redor delas, flores tímidas começavam a nascer. Senti tanto orgulho de cada torre que me deu vontade de tatuar uma!
Continuei caminhando à beira de riachos com o som cristalino da água, tão gostoso de ouvir… No fundo de um deles, uma cachoeira enorme se erguia, onde Orixás se banhavam e brincavam. Sobre uma pedra, estava o frasco com minha poção mágica. Abri a tampa e senti o aroma… abracei o frasco como quem segura uma memória feliz e, em seguida, bebi lentamente, aproveitando cada instante daquela bebida doce. Tampei o frasco e o coloquei de volta sobre a pedra.
Segui para trás da cachoeira e entrei em uma caverna de rocha firme. No seu trono estava a Sacerdotisa. Ela tocou um sino e me chamou. Sentei-me aos seus pés, como uma criança que quer saber de tudo, mas não perguntei nada. Ela apenas disse para confiar na minha intuição, deixar o coração comandar e sair um pouco da mente. Criar a partir da emoção.
“Não se importe com julgamentos”, ela falou. “Siga seu coração. Sua emoção sabe o que é certo e errado. Só tenha cuidado para não se perder nela. Não manipule a emoção a seu favor. Se for um não, escute; se for um sim, escute. Seja fiel a ela, e ela será fiel a você.”
Ficamos ali juntas por mais um tempo. Quis tocar a lua aos pés dela, mas não pude. Ela disse que a intuição não se toca, apenas se sente. Achei bonito. Então ela tocou o sino novamente e disse que eu podia seguir e voltar sempre que precisasse.
Saí da caverna e voltei para perto dos Orixás. Entrei na água com eles, brincamos e rimos. Chamei todos os peregrinos para essa dança mágica, e eles vieram trazendo suas dores transmutadas em pequenos cristais que guardavam no bolso para não esquecerem o porquê de sua jornada.
(Agosto 2025)